Estado actual da investigação da vacina contra o COVID-19

Sumário:

  • Existem mais de duzentas vacinas em desenvolvimento, com mais de trinta delas em ensaios clínicos.
  • Dez vacinas chegaram às fases finais dos ensaios clínicos, onde até 30.000 voluntários adultos participam de forma a examinar a segurança e eficácia dos produtos.
  • As vacinas de mRNA são comprovadamente seguras, mas a imunidade alcançada pode ser limitada.
  • As vacinas que usam vectores virais são as mais promissoras para alcançar uma protecção alta e ampla, e embora raramente, podem ser mais propensas a problemas de segurança em comparação com outros candidatos promissores.
Estado actual da investigação da vacina contra o COVID-19

Actualmente, o SARS-CoV-2 é um dos problemas mais importantes da comunidade global devido à sua ameaça à saúde humana. O ónus económico também deve ser considerado devido, no mínimo, ao seu efeito duradouro nos mercados de trabalho e nas pequenas e médias empresas. A maioria dos indivíduos infectados pode sofrer infecções assintomáticas ou desenvolver uma doença leve com febre, cansaço e tosse. São observadas dificuldades a respirar e perda do olfacto e paladar. Nos casos mais graves, a infecção pode ser fatal ou deixar efeitos de longo prazo [1]. A taxa de infecção tem progredindo a uma velocidade sem precedentes, o que significa que mais pessoas sofrerão com a infecção num futuro próximo. As vacinas têm-se mostrado a solução mais prática e económica para proteger a maioria das pessoas de patogénios a longo prazo. Neste artigo, apresentamos as principais vacinas que estão a ser desenvolvidas, a fim de familiarizar os leitores com as abordagens adoptadas por cientistas de todo o mundo para resolver este problema.

Existem mais de duzentas vacinas em desenvolvimento. Trinta e nove estão agora a ser testadas em pessoas, em ambientes de ensaios clínicos, que descrevemos num dos nossos artigos anteriores (Ensaios clínicos). Dez deles alcançaram com sucesso o último estágio da fase clínica multicêntrica 3, onde geralmente até 30.000 voluntários com idades entre 18-85 participam com a inclusão do controlo placebo [2] Com excepção da vacina russa Sputnik V, cada uma das vacinas acima mencionadas tem seguido um processo padrão, embora comprimido administrativamente [3].

Algumas das vacinas mais discutidas são vacinas baseadas em mRNA, nas quais as células do receptor são instruídas a produzir uma pequena parte do vírus para treinar o sistema imunitário (Vacinas de mRNA).

As principais propostas são BNT162 da BioNTech / Pfizer e MRNA da Moderna que estão actualmente na fase final dos ensaios clínicos [4, 5]. A tecnologia é promissora devido à falta de problemas de segurança, frequentes ou graves, presentes em ensaios clínicos e ao potencial de produção rápida em tempos de pandemia. Ao contrário das vacinas baseadas em células, o mRNA pode ser gerado imediatamente ou alterado in vitro graças à utilização de enzimas extremamente eficientes, como a RNA polimerase [6]. Por outro lado, não é totalmente conhecido se as vacinas induzirão uma forte imunidade no tecido pulmonar, um dos principais locais de infecção da SARS-CoV-2.

Os outros candidatos promissores que alcançaram a terceira fase dos ensaios clínicos são os chamados vectores virais. Estas vacinas contêm vírus geneticamente modificados, e diferentes adenovírus humanos ou animais, com proteínas características do SARS-CoV-2 na sua superfície. Estas tendem a gerar uma resposta imunitária mais forte, inclusive no tecido pulmonar. ChAdOx1 nCoV-19 (ou AZD-1222), desenvolvida pela Universidade de Oxford e AstraZeneca, é baseada em adenovírus de chimpanzé e pode atingir ampla resposta imunitária. E oposição a Ad26-S (Janssen Pharmaceutical), Ad5-nCoV (Cansino Biologics) e Sputnik V (Gameleya Research Institute), que contêm adenovírus humanos, e que podem ser menos eficazes. Uma fracção das pessoas pode já ter entrado em contacto com os vírus. Assim, essas pessoas terão uma resposta imunitária mais forte aos componentes do adenovírus humano em vez das proteínas SARS-CoV-2 [8]. Estes tipos de vacinas são relativamente seguros. No entanto, no início de Setembro, a AstraZeneca interrompeu todos os ensaios de ChAdOx1 nCoV-19 temporariamente devido a uma doença inesperada, com sintomas de mielite transversa, a fim de investigar a sua causa [9]. Isto ilustra que, apesar da potencial pressão política, as questões de segurança estão a ser tratadas de acordo com o protocolo. Por outro lado, o Sputnik V recebeu aprovação surpreendentemente antecipada em Agosto de 2020 para distribuição na Rússia, antes de finalizar todos os ensaios clínicos [3].

Outras vacinas estão a ser desenvolvidas em forma de vírus inactivo, que geralmente são administrados com adjuvantes (substância farmacológica adicional) para aumentar a resposta imunológica. Assim, estas não são adequadas para administração nos pulmões e podem apresentar algumas questões de segurança [10]. Estes tipos de vacinas estão a ser principalmente desenvolvidas na China, Índia e Cazaquistão [2].

Esta não é uma lista exaustiva de todas as potenciais vacinas e apenas fornece uma noção geral das mesmas. Para ler mais, consulte a referência 2. Em suma, há um grande esforço da parte da comunidade científica, empresas farmacêuticas e as agências reguladoras para trazer vacinas seguras e eficazes contra a SARS-CoV-2. Em Novembro de 2020, e com base em resultados provisórios, a BNT162 da BioNTech / Pfizer mostrou ser 90% eficaz [11]. Muito provavelmente, as vacinas vão ser principalmente usadas em países desenvolvidos devido aos requisitos de armazenamento [6]. Em regiões com mecanismos de distribuição insuficientes, as vacinas baseadas em adenovírus podem ser as preferidas. De qualquer das formas, acredita-se que as vacinas serão administradas primeiro nos profissionais de saúde ou pessoas vulneráveis e, posteriormente, à população em geral. Num futuro próximo, isto evitará a sobrecarga dos hospitais e o excesso de mortes da população vulnerável. A longo prazo, esperamos que a transmissão do vírus seja interrompida e os surtos de SARS-CoV-2 ocorram cada vez com menos frequência.

Referências:

  1. Azer S.A. COVID19: pathophysiology, diagnosis, complications and investigational therapeutics. New Microbes New Infect 37, (100738) (2020).
  2. https://www.covid-19vaccinetracker.org/
  3. Burki K. T.: The Russian vaccine for COVID-19. Lancet 8, (11): e85-e86.
  4. ClinicalTrials.giv – NCT04470427, A Study to Evaluate Efficacy, Safety, and Immunogenicity of mRNA-1273 Vaccine in Adults Aged 18 Years and Older to Prevent COVID-19.
  5. https://biontech.de/science/pipeline
  6. Pardi N., Hogan M.J., Porter F.W., Weissman D. mRNA vaccines – a new era in vaccinology. Nat Rev 17:261-279 (2018).
  7. Leticia Moreno-Fierros , Ileana García-Silva & Sergio Rosales-Mendoza: Development of SARS-CoV-2 vaccines: should we focus on mucosal immunity?, Expert Opinion on Biological Therapy, 20, (8): 831-836 (2020).
  8. Zhang S., Huang W., Zhou X., Yhao Q., Wang Q., Jia B.: Seroprevalence of Neutralizing Antibodies to Human Adenoviruses Type-5 and Type-26 and Chimpanzee Adenovirus Type-68 in Healthy Chinese Adults. J. Med. Virol. 85:1077-1084 (2013).
  9. Mallapaty S., Ledford H.: COVID-vaccine results are on the way – and scientists’ concerns are growing. Nature 586, 16-17 (2020).
  10. Lingbin Z.: Mucosal adjuvants: Opportunities and challenges, Hum Vaccin Immunother 12, (9): 2456-2458 (2016).
  11. https://www.pfizer.com/news/press-release/press-release-detail/pfizer-and-biontech-announce-vaccine-candidate-against